ATA DA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 11.04.1991.

 


Aos onze dias do mês de abril do ano de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Sétima Sessão Solene da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Ronald Radde, nos termos da Lei nº 6.712/90. Às dezessete horas e vinte e seis minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou aos Líderes de Bancada que conduzissem ao Plenário as autoridades e personalidades convidadas. Compuseram a Mesa: Ver. Antonio Hohlfeldt, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Senhora Lourdes Eloy, Diretora do Teatro Renascença, representando o Senhor Prefeito Municipal; Senhora Regina Flores da Cunha, representando a Secretaria de Cultura do Estado do Rio Grande do Sul; Senhor Ronald Radde, Homenageado; Senhores Ilse e Alfredo Radde, pais do Homenageado; Senhor Joel José Cândido, representando a Secretaria de Recursos Humanos do Estado; e Ver. Clóvis Ilgenfritz, 3º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre. Em prosseguimento, o Senhor Presidente fez pronunciamento alusivo à Sessão, destacando a importância do trabalho do Homenageado em benefício da cultura deste Estado. Após, os atores Lívia Ferreira e Neidimar Roger procederam à leitura de texto sobre a obra e a vida do Homenageado. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Ver. Luiz Machado que, como autor da Proposição e em nome deste Legislativo, discorreu sobre os motivos que o levaram a propor esta homenagem, destacando a importância da atuação do Homenageado na área cultural do Estado, especialmente através de seu trabalho junto ao Teatro do Museu do Trabalho, dos Projetos “Teatro Novo” e “A Escola vai ao Teatro”. Ainda, augurou ao Senhor Ronald Radde muito sucesso e empreendimento na função de Diretor do Instituto de Artes Cênicas do Estado do Rio Grande do Sul, na qual foi recentemente empossado. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes a, de pé, assistirem à entrega, pela Senhora Lourdes Elói e pelo Ver. Luiz Machado, do Título de Cidadão de Porto Alegre, e, pelo Casal Radde, de Medalha, ao Senhor Ronald Radde. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao dramaturgo Ronald Radde, o qual, agradecendo a homenagem recebida, discorreu sobre a filosofia e ideologia do “Teatro Novo”. Durante a realização dos trabalhos, o Senhor Presidente registrou a presença, em Plenário, das seguintes personalidades: escritora Olga Reverbel, ator Pedro de Camargo, jornalistas Eneida Dreher e Maria Eloísa Silveira, e Maria do Horto. Às dezoito horas e oito minutos, nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos da presente Sessão, convidando os presentes a passarem ao Salão Nobre da Casa e convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Antonio Hohlfeldt e secretariados pelo Ver. Clóvis Ilgenfritz. Do que eu, Clóvis Ilgenfritz, 3º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 


O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt): Iniciando esta solenidade, transmito a minha satisfação, não apenas de tão somente registrar em Plenário a presença de companheiros como Olga Reverbel, que ainda há pouco foi para a luta, mais uma vez, com uma dignidade muito bonita, e defendeu posições; a companheira Sônia Duro, a Maria do Horto, companheiros da dança, enfim, tantas pessoas que acompanham o trabalho de Ronald Radde ao longo de 23 anos.

A minha satisfação muito especial em poder acompanhar e participar desta Sessão, não apenas na condição de um amigo, porque muito me orgulho do Ronald Radde, mas, especialmente, na condição de Presidente desta Casa, porque eu ainda lembro da primeira entrevista que eu fazia com o Ronald, lá no “Correio do Povo”, quando o Ronald ainda era um funcionário da Prefeitura Municipal e tinha o seu pequeno grupo de teatro lá na Igreja São Sebastião, em Petrópolis. Depois, quando o Ronald cometeu a loucura de pedir demissão, deixar as “mordomias” do funcionalismo público e se tornar um empresário de teatro e agüentar o repuxo, quando o Ronald, bem na época de ditadura, enfrentava algumas brigas tentando garantir a montagem, a produção dos espetáculos que os grupos definiam.

É neste sentido que para a nossa Sessão de hoje é um dia muito especial, e eu somo a isto uma alegria muito especial por ter aqui na Mesa o Seu Alfredo. Eu quero me permitir também, Radde, uma homenagem ao teu pai, porque o Seu Alfredo foi aquele homem que de uma certa maneira inverte as coisas, normalmente é o filho que acompanha o pai, mas foi o pai que acompanhou o filho, fazendo cenário, batendo prego, viajando. Pelo menos algumas vezes eu viajei com o Radde por algumas cidades complicadas no interior deste Estado e eu, como jornalista, acompanhava o trabalho do Radde, antecipo-me neste sentido, sem querer roubar a palavra do Ver. Luiz Machado, que é o autor do Projeto, nosso orador oficial na tarde de hoje, eu queria dizer da minha alegria muito especial de, nesta Sessão, poder passar, pessoalmente, ao Radde esta homenagem.

Inicialmente, queria chamar a Lívia Ferreira e o Neidimar Roger, que vão ocupar os dois microfones, que vão dividir em dois atos, primeiro e segundo ato, numa pequena história do trabalho do Radde, e no meio desta história nós teremos propriamente a oração formal da Casa, através da palavra do Ver. Luiz Machado.

 

A SRA. LÍVIA CHRISTMANN FERREIRA: Boa tarde. Eu, acostumada com os palcos, com a TV, se eu gaguejar um pouco hoje vocês me desculpem. Hoje eu vou falar da vida do meu marido. Há dez anos sou casada com ele, acompanho o trabalho dele nesses dez anos, então, a emoção é forte.

Nove de outubro de 1944 nasce em Ouro Verde, um distrito de Cambará do Sul, Ronald Radde, filho de Alfredo Radde e Ilse Ada Radde. Ouro Verde, uma espécie de propriedade privada da empresa lá instalada, a Celulose Cambará, se iluminou com sua chegada, pois como o parto foi à noite e a fábrica havia desligado a rede elétrica, a pedido da Dona Else Behle, que correu tanto a ponto de sentir os tamancos batendo no traseiro, tiveram que religar a energia elétrica. Dona Else Behle nesta noite também ganhou um afilhado.

Para comoção da família, o menino Ronald nasceu com uma deficiência física que teoricamente o impediria de andar por toda a vida. Até os quatro anos ele não deu um passo, mas Alfredo e Ilse desconheceram os prognósticos médicos. Alfredo criou um sapato ortopédico para o filho, e após longos períodos de exercícios caseiros, Ronald passou a caminhar. Depois de caminhar, não só caminhou como passou a trepar em árvores, jogar futebol, fundou times de futebol que presidiu, enfim, assumiu uma postura normal de vida.

Em Ouro Verde, com sete anos de idade, Ronald assistiu o desenrolar de uma greve dos operários da fábrica, sendo o seu pai, Alfredo, um dos líderes. A família, após este fato, se desloca para Porto Alegre onde se completa, com Ronald tendo como irmãos o Dino, a Anemarie e a Margareth.

Estuda no Grupo Escolar Dona Leopoldina, depois Júlio de Castilhos, onde inicia sua militância estudantil e política. A partir dos treze anos, começa a devorar livros e também a escrever. Enche blocos e blocos de poesias, crônicas e contos. Sempre com temática social. Já trabalha em seu primeiro emprego, uma banca de feira livre, para ajudar a família que, simples e humilde, vivia em dificuldades.

Aos 16 anos, vivencia junto ao Palácio Piratini o episódio da Legalidade, fato que o marcou definitivamente como ser político.

Passa a colaborar com programas radiofônicos, com crônicas que abordavam o cotidiano; sempre com a sua marca de insatisfação. Vem a Revolução de 1964, e Ronald já liderava um núcleo de estudos políticos, dos chamados Grupos dos Onze. Bibliotecas incineradas, colegas mortos ou em fuga, um período de apreensão pessoal e familiar. Quase tudo passa, e em 1968 – um dos piores momentos do País pela repressão instaurada – escreve e apresenta, num Salão Paroquial de Igreja, a sua primeira peça “João e Maria nas Trevas”, proibida pela censura na noite da sua estréia. Tema: reforma agrária, analfabetismo, exploração do homem do campo.

Assim, por militância, nasceu o Teatro Novo, grupo que completa neste ano de 1991, 23 anos de atividades.

Depois, Radde escreve mais quatro textos: “A Fossa”, “Transe”, “Apaga a Luz e Faz de Conta que Estamos Bêbados” e por último “B... em Cadeira de Rodas”. Absolutamente todos sofreram incisões por parte da censura, e como o Teatro de Arena, também o Teatro Novo foi um marco de resistência política através da arte.

Neste período, o Teatro Novo de Radde teve o estímulo do Embaixador Carlos Magno e, participando de Festivais de Teatro em todo o Brasil, ganhou num dos grupos mais premiados do País, especialmente com a peça “Transe”, que conquistou quinze premiações nacionais, tendo sido publicada e montada no exterior, bem como os demais textos de sua autoria.

Por concurso público, Radde desempenha por doze anos funções na Prefeitura Municipal, concluindo por instaurar na Secretaria de Administração um departamento audiovisual para treinamento de pessoal e um espaço cultural para os funcionários.

Em 1978, por força do crescimento das atividades do Teatro Novo, Radde abandona o serviço público e passa a viver exclusivamente da sua arte. Participa, então, de toda a mobilização da classe artística local e nacional que redunda no fim da censura, na criação de entidades de classe, da hoje extinta Fundação Nacional das Artes Cênicas. É presente em todas as horas da luta da classe por melhores dias, com espaços e condições de trabalho. Profissionaliza suas atividades mudando o Teatro Novo em empresa produtora. Conclui que a falta de público decorre da falta de acesso da criança às aulas e cria o Projeto “A Escola Vai ao Teatro”, que viabiliza, nos dias de hoje, a que cerca de 80 mil escolares todos os anos assistam aos espetáculos infantis, com acompanhamento pedagógico.

Em 23 anos de atividades, Radde montou cerca de quarenta produções para crianças e adultos, e feito um cálculo médio, neste período, o Teatro Novo já foi assistido por mais de dois milhões de expectadores em todo o Estado e em vários estados do País e mesmo no exterior. Passaram pelo Teatro Novo mais de 450 profissionais, entre atores e técnicos. Com objetividade, o trabalho do Teatro Novo sempre foi o de cumprimento da função política e social do artista: estar junto do seu povo, do seu País. Sim, em inúmeros projetos, seus espetáculos, em 50% das suas apresentações, buscam a periferia, a camada mais distanciada da população.

Na administração de Alceu Collares na Prefeitura, Rodde ocupa a função de Coordenador Cultural da FESC e organiza ações culturais nos centros de comunidade daquela instituição, promovendo o surgimento de grupos de teatro, de literatura, de música e de dança nas vilas e bairros da Cidade. Lança, inclusive, o I Concurso de Literatura da Comunidade, com a publicação dos melhores trinta trabalhos em crônica, conto e poesia, de um total de mais de duzentos inscritos.

Há três anos recebe o desafio e restaura, passando a administrar e manter o Teatro do Museu do Trabalho, onde cria o Centro de Estudos Cênicos. No Centro de Estudos Cênicos, numa oficina permanente de teatro, sessenta, setenta pessoas por semana estudam teatro e o praticam, independentemente de faixa etária. E o Teatro Museu do Trabalho passa a prestar serviços à comunidade do bairro, como espaço aberto a todas as discussões, além de contribuir com todos os elencos da Capital, que podem utilizá-lo para ensaios e temporadas.

Há oito anos coordena atividades culturais no balneário de Capão Novo, onde instituiu, com o apoio da atual Secretaria de Cultura e ex-Codec, a Mostra de Artes Cênicas do Litoral, com a apresentação de grupos de teatro e dança, no período de veraneio, e realização de oficinas de teatro com os veranistas, que redundou no Festival de Teatro de Capão Novo, com a participação de 350 pessoas que produziram e atuaram em três espetáculos lá montados.

Houve, ainda, o período em que Radde se localizou no Clube de Cultura, onde por oito anos promoveu aquela casa que chegou a presidir, tornando-a aberta a todas as manifestações.

Hoje, Radde já deixou de jogar futebol, é pai de três filhos, Márcia, Karen e Leonel. Já iniciou e abandonou alguns projetos. Menos o teatro e a política. Deve tudo o que chega a representar a todos os que nele depositaram confiança, amor e amizade. Busca ser amigo dos seus amigos e sempre afirma que ser socialista é socializar o próprio círculo de relações.

Assim, mais ou menos, é a trajetória e a postura do homenageado. Vinte e sete de março de 1991, Dia Internacional do Teatro, tomou posse no cargo de Diretor do Instituto de Artes Cênicas da Secretaria Estadual da Cultura. Sua meta: popularizar e democratizar o teatro e a dança no Estado. Duvidam? Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos registrar, ainda, as presenças do companheiro jornalista Aníbal Berdatti; Tony Petzhold, ela já é toda uma história da dança nesta Cidade, deste Estado; da Eneida Dreher, também ligada à área da dança. Passamos a palavra ao Ver. Luiz Machado, proponente desta homenagem, que falará em nome de todas as Bancadas com assento nesta Casa, ou seja, pelo seu Partido, o PDT, e pelos Partidos PDS, PTB, PSB, PMDB, PL, PFL, PCB e PT.

 

O SR. LUIZ MACHADO: Senhores e senhoras. Ronald Radde, 45 anos, natural de Cambará do Sul, trabalhou em banca de feira livre, em laboratório de prótese dentária, foi bancário (demitido por participar de greve) e comerciário. Posteriormente, ingressou como funcionário na Prefeitura Municipal de Porto Alegre, onde atuava na produção de recursos audiovisuais voltados para o treinamento dos servidores daquele órgão. Escrevia crônicas que eram apresentadas em diversas emissoras de rádio da Capital.

Em 1968, voltou-se para o teatro, quando fundou, juntamente com seu pai, Alfredo Radde, o grupo “Teatro Novo”, entendendo ser a arte cênica o meio mais eficaz de comunicação entre as pessoas e apostando teimosamente no desenvolvimento desta arte como fonte de cultura e qualidade profissional. Sua estréia como autor ocorreu com o lançamento de “João e Maria nas Trevas”, no Salão Paroquial da Igreja São Sebastião.

Em seguida, teve a sorte de ser descoberto pela figura histórica do teatro brasileiro, Paschoal Carlos Magno, que o levou para o Festival da Aldeia Arcozelo, onde se realizou o VI Festival Nacional de Teatro de Estudantes. Neste Festival, com o espetáculo “Transe”, recebeu o prêmio de melhor diretor e melhor texto, apesar da censura, na década de 70, ter cortado e até proibindo peças de sua autoria.

Max Gaisenrainer, em sua “História da Cultura Teatral”, abre um capítulo para análise da comédia greco-romana e dentro desse capítulo analisa a importância do “Mimus”, rei do teatro. Dentro dessa análise, há uma colocação do autor que diz o seguinte: “O povo nunca é culpado da ruína de sua cultura. A cultura é das classes mais elevadas, uma culpa de destinos difíceis que abalam a estrutura do Estado nos seus alicerces. Nesta altura, tudo aquilo que eleva o homem acima de si próprio transforma-se em campo de ação de elementos medíocres”.

Carlos Pinto, Presidente da Confederação de Teatro Amador do Estado de São Paulo, em 1974, teceu o seguinte comentário sobre Ronald Radde em sua obra “Transe”: “Ronald Radde está perfeitamente entrosado nas palavras de Gaisenrainer. Ele retrata em sua obra a derrocada de uma sociedade e, conseqüentemente, a queda de cultura dessa mesma sociedade. Uma sociedade de valores morais baixos não pode ter valores culturais altos”.

Para Ronald Rodde, a mediocridade nunca está nos seus personagens, mas sim nos pretensos membros de um grande concílio formado por eminentes derrotistas, que se alienaram nas paredes de suas prisões internas e partiram cheios de glória para o julgamento daqueles que não pretendem seguir o rebanho.

Radde entende que “no teatro, estamos frente a frente, atores e público, e podemos nos amar, nos odiar, enfim, nos reunirmos numa grande sala e dialogarmos sobre as coisas que nos afligem. No teatro, temos a possibilidade de fazer com que as pessoas reflitam, ao mesmo tempo em que se identifiquem com os acontecimentos do palco, pois buscamos um teatro onde os atores sejam o público e a platéia os personagens”.

Seus textos, várias vezes premiados e destacados, procuram sempre manter uma postura de coerência crítica diante da realidade social e política do País. “Transe” chegou a ser montado na Alemanha, enquanto “B... em Cadeira de Rodas”, recentemente, foi solicitado por um canal da televisão portuguesa para veiculação em forma de seriado. Ambos foram montados em Montevidéu.

Participante dos movimentos culturais da Cidade, Radde é um dos fundadores da Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Rio Grande do Sul (APETERGS). Presidiu e atuou no Clube de Cultura durante oito anos.

Em 1974, após sete anos de experiência com espetáculos teatrais para adultos e contando com várias premiações em festivais de teatro realizados em todo o País, o Teatro Novo passou a se dedicar ao público infantil, através da coordenação do projeto “A Escola Vai ao Teatro”. Com isso, Radde passou a oportunizar aos alunos da rede escolar pública e particular da grande Porto Alegre e interior do Estado o acesso aos espetáculos do grupo a preços especiais no período letivo, em datas e horários previamente marcados. Cerca de 80 mil estudantes assistem, anualmente, as montagens do Teatro Novo, de forma sintonizada com os currículos escolares.

Ronald Radde mostrou seu talento de administrador a frente do Teatro Museu do Trabalho, onde funciona o Centro de Estudos Cênicos (CEC), uma oficina permanente com cursos de teatro e dança. O Teatro do Museu foi restaurado graças ao seu empenho, com o apoio da iniciativa privada, de amigos e simpatizantes de um sonho, que é o de transformar a volta do Gasômetro em um local de encontro e crescimento cultural da Cidade. A idéia é complementar o papel que a Usina do Gasômetro exercerá no momento em que esta obra for entregue à população. Localizado na Rua dos Andradas nº 250, o Teatro integra o complexo formado pelo Museu do Trabalho, uma papelaria, oficinas de serigrafia e gravura, além das dependências hoje ocupadas pela discoteca Natho Hann, cedidas pela Associação dos Amigos do Museu do Trabalho.

Atualmente, Ronald Rodde é o Diretor do Instituto de Artes Cênicas, cargo que ocupa a convite do Governador do Estado, Dr. Alceu Collares.

Por tudo que tem representado para a cultura, principalmente na área teatral, levando o nome de Porto Alegre além das fronteiras do Estado e do País, com reconhecimento sedimentado através de várias premiações, tanto no teatro adulto como infantil, foi que propus a concessão deste Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao teatrólogo Ronald Radde, aprovado por unanimidade nesta Casa e sancionado pelo Sr. Prefeito Municipal.

Ronald, pelo que fizeste pela nossa cultura é que Porto Alegre te concede, hoje, seu mais importante título. Por estar presidindo o Instituto de Artes Cênicas do Rio Grande do Sul, eu espero a democratização da nossa cultura teatral. Sei que é seu forte e acredito que levará a nossa cultura ao menos favorecido, aquele que não tem vez nem voz, mas tem uma grande sede pelo saber. Cambará do Sul está de parabéns pelo seu filho, que agora passa a ser também filho de Porto Alegre. Parabéns.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Chegamos àquele importante momento, que é de entrega do Diploma assinado pelo Prefeito Olívio Dutra.

“Onze de abril de 1991, o Prefeito Municipal de Porto Alegre, de acordo com o que estabelecem as Leis nos 1.534, de 22 de dezembro de 1955, e 1.969, de 23 de julho de 1959; nos termos da Lei nº 6.712, de 19 de novembro de 1990, confere o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre a Ronald Radde por relevantes serviços prestados à comunidade”.

 

(É procedido o ato de entrega do Diploma e da Medalha.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Passamos, agora, a palavra ao homenageado, dramaturgo Ronald Radde.

 

O SR. RONALD RADDE: Quero agradecer a presença das autoridades aqui na Mesa, da minha família, dos meus amigos, dos meus novos colegas de atividade lá no Instituto, agradecer demais à Maria Eloir, jornalista Xuxa, que foi quem teve a lembrança e encaminhou para o Vereador, e dizer e contar algo a respeito desses fatos que estão ocorrendo aqui, agora.

Têm ocorrências até meio insólitas. Já havia sido votado e aprovado o Projeto, só faltava marcar a data; eu não havia conhecido pessoalmente o Vereador. Acabamos conversando pela primeira vez a semana passada. Isso – se algo me orgulha – até mais me orgulha, porque realmente deve ter acontecido algo em nível de identificação do Vereador com aquilo que faço. Fico feliz, porque além dele ser de meu Partido, tive a felicidade de receber a homenagem de um homem do povo, aqui representando uma parcela muito grande de nossa Cidade, um homem do povo que tem um sonho lindo: levar a OSPA até a Restinga. Sabem por quê? Porque no momento em que a OSPA tocar na Restinga, aquelas pessoas vão se sentir cidadãos iguais; quando se falar na Orquestra, o pessoal dirá: “Ah, a Sinfônica, ela já tocou na Tinga”.

Em toda a idéia que projetei no meu trabalho, na verdade se desenvolveu mais na militância que no purismo artístico, na busca estética que o artista se determina, foi nesse sentido. Toda ação do Teatro Novo, durante esses anos todos, foi em busca da proposta de igualdade, de propiciar a que as pessoas, tendo acesso, possam crescer, sentir-se iguais a todos os outros que têm mais e maiores oportunidades. Mas tem passagens que, sei lá, eu não tenho muito tempo, as nossas atividades são sempre muito apressadas, a produção de espetáculos lá no Instituto. Ontem, eu comecei a pensar e até não assimilei bem a história do Titulo este, mas eu estava pensando em algumas passagens: o que será que me trouxe até aqui? Será que eu mereço? Qual a minha responsabilidade nisso? Eu fiquei pensando em momentos da minha vida que me ajudaram a chegar até aqui.

Uma das coisas que eu lembrei ontem, eu estava almoçando e lembrei que eu trabalhava na feira e escrevia à mão, eu tinha uma ânsia de escrever, eu escrevia blocos e blocos e nem sabia o que iria fazer com aquilo. Um dia surgiu uma pessoa que tinha uma máquina de escrever para vender, e era exatamente os seis “pilas” que eu ganhava por um mês de trabalho lá na feira, e eu, na minha família, eu participava com a metade, com três mil, dos seis, a gente tinha um acordo de ajudar a família. Eu fui ao pai, na mãe e disse: vocês têm que me dar uma força, um tempo, eu pago depois os três, mas eu preciso ter os seis inteiros esse mês, e eles me deram a força, conseguiram equilibrar as finanças de outra maneira. Eu lembro, eu não era tão forte quanto hoje, eu era até meio esmirradinho e fui de ônibus buscar a minha primeira máquina de escrever, aquelas pretinhas bem antigas, e vim no ônibus com aquilo no colo, e aquilo pesava, e a parada do ônibus também era longe, e eu também caminhei com a máquina umas cinco, seis quadras, mas com o coração batendo acelerado, uma alegria imensa, porque eu estava tendo a minha primeira máquina de escrever. Eu escrevia tudo naquela máquina durante muitos anos.

Então, eu tive a oportunidade de aprender a valorizar, graças a meus pais. Todas as coisas feitas, todas as coisas mais determinantes, eu creio que passaram sempre pelas mãos, pelas cabeças, pelas idéias, pela postura de meus pais, e eu cultivei isso a vida inteira. Eu tenho meu pai como um modelo de otimismo, de persistência, de obstinação, ele é um homem que passou as maiores dificuldades em nível de emprego, de doença, de situações assim difíceis, e ele sempre dizia assim: vai dar certo, vamos lá que vai dar certo, isso aí passa, vai dar certo e nós vamos conseguir. Agora mesmo, no ano passado, ele passou por uma situação que só ele agüentou, se fosse eu tinha me entregue na hora; está aqui, inteiro, com a gente. Então, essa obstinação e essa persistência, essa vontade de fazer e esse “vai dar certo” eu cultivei com certeza a partir da imagem e do exemplo que ele sempre me passou.

Quanto à atividade que a gente fez, tudo foi muito de roldão, sem pensar, sem refletir, as coisas foram acontecendo, isso o Neidimar, a Lívia, o próprio Vereador já colocaram aqui. Agradeço muito à Lívia não só por isso, mas pelos dez anos de luta, de impulso, e se hoje estou aqui sei que devo à Lívia também, muito. E todos os meus amigos e inimigos, porque os inimigos também te estimulam até lutar muito mais. O próprio Antonio, nós tivemos brigas terríveis, quanto mais ele me criticava, mais eu teimava em continuar fazendo aquilo que eu fazia. O Cláudio Remo, entre outras pessoas dessas relações aqui. Hoje, o compromisso novo assumido lá no Instituto, para mim é uma coisa muito alegre, muito feliz, apesar da grande responsabilidade que tenho. Porque eu passei 23 anos do outro lado, só criticando, só dizendo que estava tudo errado, que tinha que mudar, mas como, como a situação é esta, ninguém faz nada direito. Então, agora eu vou ter que ir lá e fazer direito. E vou fazer direito, seguindo o velho ali, vai dar certo, tem que dar. Eu estou muito contente, muito feliz, estou vendo até as crianças chegando aqui, são lá do Museu do Trabalho, muito obrigado por terem vindo. E agradecer é pouco por esse momento que vai ficar gravado por muito tempo na minha vida.

E não me julgo merecedor; fico pensando, acho que tudo bem, eu espero realmente ter correspondido para chegar a vivenciar este fato aqui, que é muito importante para nós todos. E eu queria ser um pouco pretensioso de estender esta homenagem a toda classe teatral, especialmente à classe teatral, porque nós, artistas, somos tão esquecidos que, quando somos lembrados, acho que não é uma questão pessoal. Acho que é alguém da classe que foi lembrado. E isto é importante para o engrandecimento da nossa atividade.

Muito obrigado a vocês, muito obrigado, Vereadores, obrigado Antonio. Muito obrigado a todos aqui. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos registrar recebimento de correspondência, que passamos ao Ronald, do Deputado Caio R. Viena, e fonograma do Dep. João Luiz Vargas, Líder do Governo do Estado, e do companheiro José Antônio Fernandes, atual Presidente da Caixa Econômica Estadual. Quero registrar, também, a presença do Ver. Clovis Ilgenfritz, que acompanha a nossa Sessão.

E ao encerrarmos os nossos trabalhos queremos, sobretudo, torcer para que o Radde, agora no Instituto de Artes Cênicas do Estado do Rio Grande do Sul, e acompanhado, se entendi, da companheira Xuxa, que é uma excelente jornalista, que já trabalhou conosco, inclusive aqui na Casa. Radde, que tu tenhas êxito.

Mas, enfim, Radde, quero desejar que tu tenhas essa mesma fibra, essa mesma persistência que a gente viu na criação da APETERG, na nossa briga na defesa da Fundação de Artes Cênicas, que tantas vezes nós viajamos ao Rio, e eu, a teu convite, nesta briga, no Museu do Trabalho, e mais recentemente em Capão Novo. Eu sei que tu tens essa força e quero te dizer, da maneira pessoal do Antonio, na condição de Presidente momentâneo durante esse período, no que nós pudermos participar nessa luta, dizia isso hoje à Secretária Mila Cauduro, da Cultura, no que nós pudermos participar juntos, você, por favor, conte com a gente, com todo o carinho.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h08min.)

 

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